Toda comida de rua, da economia informal, vendida na praia ou em qualquer lugar que não seja um ambiente fechado, tem uma raiz histórica na cozinha caseira. Alguém, por algum motivo econômico qualquer,  resolveu usar suas habilidades culinárias como forma única ou complementar de renda. É um batalhão de gente vivendo dessa forma, vendendo bolo, trufa, laranja, melancia, abacaxi, brigadeiro, acarajé, tapioca, picolé, abafabanca*, camarão no espeto, queijo coalho assado, empada, pastel, açaí, caldo de cana, churasquinho, algodão doce, pipoca, ovo de Páscoa… em todas as cidades do Brasil.

Quando a questão é culinária de rua, as fronteiras culturais e sociais estão rompidas, não temos muros nem limites. Podemos encontrar uma empada de carne seca na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, ou na praia do Coqueiro, em Trancoso. O bolo de nada** e o mingua de milho com café e leite vendidos na entrada do metrô Tatuapé em São Paulo, podem ter os mesmos sabores dos vendidos em frente de algum prédio em construção, nas cidades de João Pessoa e Porto Alegre.

As necessidades são paralelas e complementares, seja de quem vende ou de quem compra. De quem vende, temos a informalidade, a necessidade de garantir renda mensal. De quem compra, temos a falta de tempo, o prazer de uma comida de rua, um desejo de preço mais justo.

Os atores da comida de rua, vendedores e consumidores, apresentam ainda, algumas pitadas da cumplicidade do fazer e do consumir comidas com mais proximidade dos afetos de uma comida feita dentro de uma cozinha de casa.

• *Abafabanca – Tipo de picolé feito em formas de gelo, com sabores variados e muito comum no nordeste. Muitas casas “Vendem Abafabanca”.
• **Bolo de nada – Também do nordeste, é um bolo sem sabor definido, feito de leite de vaca, ovos, farinha de trigo e manteiga. “Este bolo aqui é de que? De nada”.

Vendedor de laranjas, Trancoso (BA). Aparelho para descascar as laranjas, rápido e certo!

Vendedor de empadas na Praia do Coqueiro, Trancoso (BA)