Natal: A Grande Arca com Cozinha Afetiva

As imagens dos presépios de Edgar Oliva encantaram-me. 

Para mim, o natal – uma festa causadora das mais diversas emoções e significados – é um sinal que o ano acabou, que vai chegar 31 de dezembro e vamos virar mais um ano. Sou sempre otimista nestas viradas e sempre acho que o novo ano é uma renovação, uma possibilidade de fazermos algo novo, reinventar, subverter alguma coisa a nosso favor, mesmo que esta impressão termine antes do final de janeiro. Tudo bem, mas é muito bom nos alimentarmos de novas esperanças e possibilidades. 

Cultura e artes se entrelaçam em muitas fronteiras. Cultura nem sempre representa uma manifestação puramente artística, porém neste universo da Grande Arca temos uma manifestação de cultura de origem artística (ou seria uma manifestação artística dita popular que gerou uma cultura do hábito do fazer presépios?). 

A Grande Arca é um trabalho gerador de várias interpretações sociais, politicas e antropológicas, porem prefiro reduzir meu olhar a uma simples observação de uma arte puramente singela, onde não temos normas e padrões, onde, a princípio, a estética não representa nada. Tudo isto é só impressão, pois os presépios da Chapada quando olhados em conjunto assumem uma identidade impar,  com estética própria de profunda similaridade. Tudo pode neste universo. Decora-se com o que se tem afinidade. Só fazem parte dos presépios as peças, que na simplicidade estética destas mulheres nordestinas, tem um sentido de beleza ou que no conjunto irá prover algum tipo de beleza e afeto. 

A Grande arca fica em exposição até 11 de fevereiro de 2012. Mais uma vez recomendo. O registro desta cultura popular da Chapada Diamantina, na Bahia, é um tesouro precioso, agora definitivamente guardado nos arquivos digitais de Edgar Oliva, e se Dona Antônia (Andaraí), Dona Jardilina (Lagoinha) e Dona Jandira (Wagner) – citando algumas das Natalistas presentes na exposição – não conseguem traduzir em palavras a importância cultural dos seus presépios, ninguém melhor que Jean-Luc Godard para nos lembrar de que “as imagens são formas que caminham em direção à palavra”. 

Nas fotos a seguir temos um almoço na casa da Dona Antônia Pereira dos Santos, na cidade de Andaraí, sensivelmente registradas por outra amiga da Bahia. No universo das diversidades culturais, há sempre um lugar para uma cozinha de perfil afetivo.

A Mesa da Grande Arca (Foto: Edivalma Santana)

A mais tradicional salada da Bahia: alface, tomate, cebola e azeitona. Vai ao prato, juntamente, com tudo mais que a mesa afetiva oferece. (Foto: Edivalma Santana)

Salada de repolho, beterrada e azeitona (Foto: Edivalma Santana)

As cores dos presépios estão presentes na vida cotidiana deste povo. Não há fronteiras entre casa e presépio. A mesa posta, as comidas afetivas, a tolha de plástico, os recipientes floridos que guardam as comidas,  a decoração da casa e tudo mais no universo caseiro destas mulheres constituem um cenário único das suas vidas.

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