O Casamento de Genaro e Mei Li

O texto* abaixo, uma ficção afetiva culinária, apresenta o cardápio da festa de casamento de Genaro Steiner (filho de uma mamma italiana e neto de rabino israelense) e de Mei Li de Oliveira (filha de uma chinesa de Hong Kong e um descendente de portugueses).

Quando meus amigos Genaro, paulistano filho de mãe italiana e neto de rabino israelense, e Mei Li, pernambucana filha de mãe chinesa com descendência portuguesa, formalizaram a data do casamento, confesso, com culpa de baiano guloso e fissurado na cozinha afetiva do mundo, que só pensei na farra culinária que seria a festa. Na verdade, fiquei sonhando com a tal celebração das etnias, religiões e sabores deste casamento. Qual seria a carta das bebidas e o cardápio das entradas, pratos principais e sobremesas? Como seria a harmonização da diversidade dos sabores salgado, doce, amargo, ácido e umami destas cozinhas de personalidades fortes e marcantes?

Enfim chegou o grande dia da minha mundial farra culinária, e logo após a cerimonia partir para o ataque, sem miséria. Bebidas, todas da Itália, iniciando com um verdadeiro espumante de Asti, gelado, docinho na medida certa, que deslizou como uma pura seda chinesa pela minha boca ávida pelas entradinhas da mãe da Mei Li. Impossível traduzir a delicadeza das misturas e das texturas, associadas aos sabores agridoce do molho dos rolinhos de pitu e primavera, ao picante tofu ou ao frescor dos pepinos e brotos de bambus envolvidos por umamis sabores da China. Pausa para uns goles de um branco de Orivetto, que harmonizou com o frango assado com ervas e mel, do tradicional receituário judaico, contrapondo com o azedinho do bazargan, trigo temperado com limão, extrato de tamarindo e snubar. Já quase sem sentidos, lambuzei-me sem vergonha nos fios de ovos, filhós e pastéis de Belém, orgulho das doceiras de Portugal, aos goles do azedinho, doce e gelado Limoncello, e finalizando, claro, com o amargo e refrescante Chinotto, delicioso digestivo italiano.

No grande final, café e o legitimo bolo de noiva do Recife, representantes da cozinha do Brasil, país de origem do Genaro e da Mei, que fecharam com talheres de ouro esta celebração da cozinha universal.

*Texto produzido a partir das aulas da oficina de “Comida & Literatura” – São Paulo / fevereiro, 2011  (www.oficinadeescritacriativa.com.br)

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