Memória Afetiva do Natal Brasileiro

Histórias de “Natais” são parecidas em todas as famílias, e na medida em que agrupamos estas famílias por países, estados, cidades, bairros… as histórias ficam mais parecidas e as memórias formam uma identidade quase única. Temos, com certeza, uma Memória Afetiva do Natal Brasileiro, que pode ser segmentada em Histórias de Natais Baianos, Cearenses, Paulistas, Gaúchos, Mineiros…

As particularidades de cada história formam, então, a nossa identidade pessoal e única da Memória Afetiva de Natal, identidade recheada das heranças afetivas da nossa família, dos hábitos, costumes e condutas dos nossos pais, avós, tios, irmãos e vizinhos mais próximos. No texto abaixo, que afetivamente batizamos de “Pudim de Natal do Menino Jesus e Chinchilas”, Renata Rodrigues, amiga paulista de longa data, relata de forma criativa e bem humorada suas memórias afetivas de natal, que passam, logicamente, pela cozinha da sua mãe.

Arriscamos afirmar, que não existe História Afetiva de Natal sem memória afetiva de cozinha. Natais e Cozinhas estão intimamente ligados e relacionados. Boa leitura!

PUDIM DE NATAL DO MENINO JESUS E CHINCHILAS (Renata Rodrigues) 

Todos os “Natais” da minha vida foram memoráveis. Quando vasculho meus arquivos emocionais sobre o Natal, nada encontro de sombrio ou triste. E devo a minha mãe a construção feliz dessa data em minha história até os dias de hoje. 

Ela tem uma energia inesgotável em preparar a festa e uma criatividade infinita em nos surpreender em pacotes e detalhes. Cheguei à conclusão que seu conceito de presente se resume em algo que você desejaria muito ter, mas jamais se permitiria comprar – seja por dinheiro ou por juízo! Inclua nessa lista animais de estimação como gansos e chinchilas, colete salva vidas digital, piscina inflável de 30.000 litros, bicicleta restaurada de 1920 e assim por diante.

Chinchila

Tudo é possível e nada é previsível. Exceto o cardápio: nesse quesito nenhuma surpresa desde os meus quatro anos de idade, quando meu peru de estimação (Nestor) apareceu bronzeado sobre a mesa… pensando bem esse episódio poderia ser classificado como traumatizante em minhas memórias natalinas.

Deixe-me explicar melhor: nunca fizemos uma ceia de Natal. Isso mesmo – a tradição matriarcal definiu que em nossa residência haveria almoços natalinos e não ceias – nada de comer “restos” no dia seguinte nem crianças ficarem acordadas até tarde entre tapas e choros – sapatos embaixo da majestosa árvore, um Pai Nosso todo engolido em frente ao presépio e cama! No dia seguinte, se ninguém tivesse atrapalhado o Papai Noel espiando-o durante a noite, os presentes esperados estariam embaixo dos sapatos… ou dentro… ou em cima deles… ou fazendo deles um confortável ninho…

E num piscar de olhos o relógio anunciava o tão cheiroso e esperado almoço: todos os pratos dispostos na mesa, em suas respectivas travessas e ordem cósmica. E depois da oração o ataque era maravilhoso! Nunca entendi porque só comíamos tender no Natal – não ”criavam tenders” durante os outros meses do ano? E passas então? Porque aquela divindade de arroz com passar não podia ser cozida em outro dia com cara de domingo? Passei toda minha infância sem tais respostas tão essenciais e sem poder repetir tais iguarias em outros dias tão mortais…

Mas o ápice da festa ficava por conta da sobremesa: por 364 dias esperávamos por ele: O Pudim de Natal

Era como se guardassem a melhor melodia para tocar no final do concerto – um Gran Finale – algo para degustar preciosamente em pequenas porções espalhadas por tigelinhas de louça branca com desenhos florais e bordas douradas em companhia de centenárias colheres de sobremesas herdadas de bisavós espanholas. 

Hoje me espanto pela simplicidade da receita do tão venerado pudim… mas deixei de questionar sua presença singular em nosso almoço natalino quando minha mãe finalmente resolveu me explicar o porquê de tal exclusividade: 

___ Se eu o fizesse em outros dias não poderia fazê-lo no aniversário do menino Jesus.

Gostei de sua religiosidade gastronômica e pretendo respeitá-la em nossos Natais futuros. E também aumentar minha fatia do pudim esse ano… 

PUDIM DE NATAL DO MENINO JESUS

1 – INGREDIENTES

Calda Caramelizada

  • 2 xícaras de açúcar
  • 1 xícara de água quente
  • Gotas de essência de baunilha

Pudim

  • 1 litro de leite integral frio
  • 2 latas de leite condensado
  • 3 colheres de amido de milho 
  • 2 gemas (reserve as claras)
  • Gotas de essência de baunilha 

Recheio do Pudim

  • 200g de passas brancas e 200g de passas escuras (dormidas no vinho doce se gostar)

Cobertura de Suspiro

  • 4 claras 
  • 1 xícara de açúcar  

2 – MODO DE PREPARO

  • Prepare a calda levando o açúcar e a água ao fogo até caramelizar. Forre o fundo de uma forma de vidro tipo pirex oval. Espalhe algumas passas claras e escuras sobre a calda.  
  • Misture o leite integral, o leite condensado, as gemas e a baunilha. Dissolva o amido de milho nessa mistura e leve ao fogo mexendo sempre  até engrossar e por mais alguns minutos.  
  • Despeje a metade do pudim na forma. Espalhe mais passas claras e escuras sobre o pudim. Despeje o restante do pudim e repita as passas. 
  • Bata as claras em neve e adicione o açúcar aos poucos até que forme um suspiro firme. Cubra o pudim com o suspiro e faça alguns desenhos com a ponta de um garfo. Leve ao forno pré-aquecido e deixe em 180 oC até que o suspiro doure.  Deixe esfriar e leve à geladeira por algumas horas.  
  • Sirva de sobremesa no almoço de Natal. 
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